26 janeiro 2007

No Meio do Caminho, Nosso Palácio

No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.


Carlos Drummond de Andrade. Poeta do Modernismo brasileiro.

Tinha uma pedra em seu caminho: a obscuridade.

Outra: a ignorância.

Ainda: a incompreensão.


Antigamente, Drummond fora um louco. Hoje, é expoente literário – um visionário. Tropeçou em certas pedras; várias delas circundou. Porém, ali estavam: lúgubres, no centro e à margem – obstruindo a passagem.


Muitos tentaram tirá-las; outros mais retornaram a colocá-las. Alguns, ainda, as dinamitam – mas estas, quase invencíveis, ressurgem e se solidificam.


Desinformação, mau-caráter regado a vinho. Talvez não tenhamos posto pedras – e sim, construído lápides. Um paço fúnebre e fatal - no meio, bem no meio do caminho.

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